Mônica Vermelha

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quarta-feira, 10 de abril de 2013

O príncipe encantado morreu!

N'algum ontem tive a oportunidade de participar de um pequeno debate com uns amigos virtuais e a prosa rolou a propósito da candidatura de Patrus Ananias à Prefeitura de Belo Horizonte. Os rapazes com quem eu confabulava argumentavam, basicamente, que o PT e o Patrus já foram bons, que não são mais porque, em nome do poder, fizeram concessões e alianças e políticas inaceitáveis. E eu fiquei cá pensando com os meus botões, sem querer ofender os meus amigos, que, na verdade, eles são uns românticos e ainda estão, a essas alturas do campeonato, sonhando, no caso, com a "princesa encantada".


Eu estou definitivamente convencida de que a política não tem muito a ver com o mundo dos nossos sonhos, quero dizer, tem tudo a ver, mas, é aqui e através de alianças, concessões e acordos que se pavimenta a estrada que, talvez, nos permita nos aproximar um pouco mais deste mundo sonhado. Rolou também uma história de falta de memória, e aí tinha uma contradição, porque os meus amigos queriam que eu não esquecesse os maus feitos do candidato, mas também queriam que eu esquecesse o que ele havia feito de bom. Confesso que fiquei travada, e aí, o bom é lembrar ou esquecer? A gente deve lembrar o ruim e esquecer o bom? Bom, e quanto aos outros candidatos, devo lembrar ou esquecer a história e os feitos deles? Fiquei também pensando nas teorias que estudei no meu curso de Ciências Sociais e lembrei uma coisa simples: partido se chama partido porque representa uma parte da sociedade, mas para se chegar ao poder, o partido tem que ser representante da maior parte, tem que admitir outras visões, dialogar e fazer acordos e alianças. É o dilema do partido ideológico, ter uma ideologia é ter um conjunto de idéias a respeito de como o mundo deve ser e do que deve ser feito para se caminhar nessa direção, mas para que esse "conjunto de idéias que orienta a nossa ação" possa valer é preciso que cheguemos ao poder e a chegada ao poder não acontece nem nunca acontecerá, de forma democrática, a não ser que essa ideologia se abra o suficiente para abrigar sob o seu manto a maioria, ou a maior parte da sociedade, já que é ela que elege, que decide, não é mesmo? Lamentavelmente, a democracia é a antítese do radicalismo, mesmo no seu melhor sentido. Eu gosto de partido ideológico, eu voto em um conjunto de idéias e de propostas e projetos mas, partidos ideológicos não chegam ao poder por meio de eleições numa sociedade como a nossa, marcada pelo coronelismo, pela hegemonia absoluta dos meios de comunicação social completamente descompromissados com os anseios e necessidades do povo brasileiro, se não fizer concessões, se não se abrir a alianças e parcerias com outros setores. Se tivéssemos uma tradição democrática maior talvez as concessões pudessem ser menores, mas, infelizmente, não temos.

Tem mais uma coisa que me incomoda, este debate era com dois amigos da área da cultura e, como artista é um bicho sensível demais, é especialmente difícil contentar a todos, embora, também nessa área, os governos petistas tenham sido os melhores até agora. O fato é que, dada a nossa realidade, o debate cultural tende a ficar para o segundo plano, por mais que discordemos disso. E aí rola uns ressentimentos, umas mágoas eternas, passionalismos etc, de quem, por amar e viver da arte, não consegue aceitar e entender que, infelizmente, a realidade de um país extremamente pobre, desigual e oligárquico impõe outras prioridades, outras urgências, outros debates. Infelizmente, faz parte da nossa tradição essa ruptura entre política/economia/cultura/cidadania/educação e muita água vai ter que correr por debaixo dessa ponte, antes que consigamos restabelecer os laços e conexões naturais e necessários entre essas áreas.

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