Mônica Vermelha

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terça-feira, 26 de março de 2013

Da vida, da morte e da alegria de viver.

Reli, há alguns dias, o livro do Gabriel Garcia Márquez - Cem anos de solidão - e fiquei cá pensando com os meus botões: cem anos é muito para a solidão humana e aqui nos labirintos do meu cérebro acabei relembrando e relacionando essa ideia com uma outra que está numa música do Gil: “... eu sei que no fundo, o problema é só da gente...” e ainda de um poema do Drummond que diz: “... pobre vive porque nasce.”

Antes de qualquer coisa, devo dizer que não pertenço ao time dos que se agarrram à vida a qualquer custo e temem a morte (própria ou de outrem) como o diabo teme a cruz. Obviamente fico triste e sinto muitas saudades de pessoas queridas que já se foram, mas acho que a morte é algo perfeitamente natural e que, em determinados casos, poder morrer é nada menos que um privilégio. Não se enganem, estou longe de achar a vida ruim, apesar de todos os percalços, eu acho que a vida “vale a pena”, mas, sinceramente, neste momento, talvez amanhã eu mude de ideia, acho que uma pessoa não precisa viver mais do que oitenta anos; obviamente, se o indivíduo está com noventa e ainda preserva a lucidez e o autogerenciamento, não defendo que ele seja exterminado, mas fico incomodada com histórias de pessoas que estão há anos e anos vegetando em cima de uma cama, sem ter noção de nada, sem conhecer ninguém, sem sentir nada ou sentindo apenas dores... eu não compreendo. Tem ainda um outro aspecto que talvez ateste um certo orgulho e até uma veia meio utilitarista, mas eu não gostaria de ser totalmente inútil, apenas um peso para aqueles que me amam.


Aprendi que uma boa estratégia para compreender uma pessoa é tentar se colocar no lugar dela e, quando tento fazer isso e me vejo, numa cama por vários anos, mantida por aparelhos, tudo o que eu quero é a morte, uma alma bondosa que faça a caridade de fazer por mim o que eu não consigo: desconectar o último aparelho que me mantém presa a uma “vida” insana e completamente desprovida de sentido. Também acredito que só posso impor ao outro, aquilo que aceitaria que me impusessem também. Não significa que pretendo impor a morte a ninguém, mas estou plenamente convencida de que a prática deveria ser legalizada e regulamentada em nosso meio. Para mim, em casos extremos, a morte induzida é a alternativa mais razoável, humana e, mesmo, amorosa.

Meu querido pai, que faleceu há dois anos e viveu até os oitenta e dois anos com saúde razoável, às vezes se revoltava com as restrições alimentares impostas pelos médicos e dizia “se um homem não pode comer um torresmo e tomar uma cachacinha de vez em quando, é melhor morrer”, e eu concordava, liberava e o acompanhava às vezes. Que coisa mais sem sentido viver sem ter direito a um pequeno prazer, a uma simples alegria, que vida mais sem graça, mais sem sal! Acho extremamente cruéis as pessoas que impõem aos idosos dietas tão rígidas, acho impensável uma vida sem um docinho, uma cervejinha, um bom tanto de sal, um torresminho, às vezes. Sou muito “filha do meu pai” e acho que ele estava cobertíssimo de razão.

Isso tudo é para dizer que sou a favor da eutanásia porque a vida quando a gente tem direito e acesso a alguns pequenos prazeres já é bastante difícil. Não me parece suportável nem razoável a ideia de manter alguém, por anos a fio, em cima de uma cama, para mim isso é o cúmulo da solidão e da tristeza e me parece que, na verdade, as pessoas que insistem nessa ideia, o fazem por mero egoísmo e insensatez, incapacidade de perceber a diferença entre a vida de um ser humano e aquilo que julgamos ser a vida de um vegetal. Eu sou humana e, definitivamente, não quero viver como um vegetal; nessas condições não entenderia o prolongamento da vida como um prêmio e sim como um castigo, uma tortura.

Se algum dia eu chegar a esse patamar, qualquer um que estiver próximo a mim, pode ter uma certeza absoluta: a única coisa que eu quero é uma alma bondosa capaz de me fazer essa última e delicadíssima gentileza: desligar os fios que insistem em me manter presa a uma vida demente e por termo à solidão infinita de uma vida completamente desamparada.

Mas isso é apenas uma opinião e um registro ...

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