Eu tinha decidido que
não iria mais falar/escrever sobre o tal do mensalão, mas tem
alguns detalhes do julgamento que, definitivamente, me deixam
intrigada. Uma das coisas é que há algum tempo, coisa de um mês,
vários amigos postaram xingamentos e censuras e críticas ao
ministro Joaquim Barbosa porque um certo jornal publicara a foto dele
e do Gilmar Mendes dormindo durante uma sessão do julgamento.
Os
indignados de então, na sua grande maioria, só expressavam sua
revolta contra o Joaquim Barbosa, ninguém xingou o Gilmar Mendes, e
eu me pergunto porque será? Na época ninguém questionou o fato,
todo mundo condenou, era um desrespeito para com a nação e ponto
final. Mais eis que o tempo passa, o Joaquim Barbosa vota pela
condenação de alguns dos réus e vira herói da turba sedenta de
sangue. E só euzinha que tenho boa memória, é que estou aqui, meio
retardadamente, me perguntando: por que será que dois dos mais altos
representantes da justiça brasileira, um deles relator do processo,
dormiam na sessão de julgamento do “maior escândalo da história
do país”? E aí, chega a informação de que os meritíssimos
dormiam na hora em que a defesa falava; ah mas se o
descaso/desinteresse era com a defesa, aí o pecado já não existe
mais, o importante para a turba eriçada pelos meios de comunicação,
não é um julgador que participa de tudo, analisa todas as provas,
ouve todos os argumentos, pondera e julga com base na lei e na
justiça; o mais importante é condenar a qualquer custo, saciar a
sede de sangue dos destronados e despeitados que nunca, em momento
algum, conseguiram engolir o sucesso do PT.
Ah, mas eu sou apenas
mais um membro da seita PT, que não aceita questionamentos, que não
se rende às evidências, que se recusa a enxergar o óbvio. E eu,
ingenuamente, me pergunto, será que os críticos – tão ferozes –
do PT, são igualmente ferozes com os outros partidos? Será que odeiam mesmo a corrupção e querem extirpá-la a qualquer custo? Será que são mesmo democratas? Não, não
são. Se fossem, estariam agora pensando em aproveitar a onda e
começar um movimento, uma grande campanha em favor da moralização
definitiva do Brasil, em favor da investigação e condenação de
centenas de outros crimes e culpados que lesaram o país, em quantias
infinitamente maiores - o mensalão não é o “maior escândalo da
história do país”, qualquer pessoa com um mínimo de memória e
honestidade política sabe disso - nos anos 60-90. A classe média,
refém da sua estupidez, mesquinharia e estrabismo político não
consegue e não quer ver, tal como os membros da seita petista, o
óbvio, o evidente, o historicamente comprovado. Minha sábia
mãezinha, semi-analfabeta, diz que “a gente só vê nos outros os
defeitos que a gente tem”. Pois é, cada qual com a sua fé! A
minha fundamenta-se na minha experiência, em tudo o que eu vi, vivi
e experienciei – e de tudo que eu não vi, não vivi e não
experienciei - nos últimos trinta anos, principalmente; e eu acho que, no final das
contas, as crenças dos meus opositores políticos também devem ser
fruto disso.
Ah, a capacidade de ver, interpretar, questionar e
transformar a sua prória história, a meu ver, depende do quanto
você se preocupou em fazer isso ao longo da sua vida, depende das
viseiras e cabrestos que você aceitou ou recusou ao longo da sua história, depende da sua disposição para analisar com cuidado e
lucidez os fatos, depende da sua capacidade de, de vez em quando,
questionar os seus próprios dogmas e reconhecer suas próprias
incoerências, depende de você saber, fundamentalmente, que todas as
suas análises repousam sobre um determinado lastro, depende
de você saber que o que você é e o que você pensa está
intrinsecamente relacionado a todas as suas experiências sociais, depende enfim, de quanta consciência você tem disso. A minha fé no PT é quase dogmática, só não é porque eu aprendi algumas coisinhas ao longo da minha vida: aprendi a questionar os meus dogmas de vez em quando, a tentar ver as coisas da forma mais ampla possível, a ter boa memória me lembrando do bem e do mal praticado por petistas e não-petistas, a saber que todo e qualquer veículo de comunicação tem lado, tem preferência política e que quanto mais ele nega isso, mais parcial e menos digno de respeito ele é. Aprendi que, tal como o ser humano, os partidos políticos também não são perfeitos. Aprendi que errar todas as pessoas e todos os partidos erram e que os melhores, para cada pessoa, depende dos princípios e experiências - ou falta de - de cada um.
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