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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O discurso do “pode mais” encobre a porta do passado - www.tijolaco.com.br

11 de fevereiro de 2014 | 11:14


Autor: Fernando Brito





 Vocês já repararam que a oposição, no Brasil, nunca diz que “é contra?” Na campanha de 2010, recordem-se, Serra apelou para “O Brasil pode mais”. Dizia que poderia fazer mais e melhor. Quando a memória dos brasileiros lembrava que haviam feito menos, e muito pior. Agora, a conversa é de que “o modelo está esgotado” e que é preciso partir daqui para um novo, porque este está nos afundando. O Brasil real, entretanto, vai atravessando- com dificuldades e escoriações, é verdade – o campo minado de uma crise que destroçou a economia mundial, criou centenas de milhões de desempregados e arruinaram as potências mundiais. Se este modelo está esgotado, qual é o que se abre para o país? Cessar os gastos públicos com programas de transferência de renda? Revogar a política de investimentos pesados em infraestrutura, para a qual nunca há dinheiro privado? Abrir mais ao capital internacional a exploração de riqueza do petróleo, renunciando a fazê-lo, essencialmente, sob o comando da Petrobras? Retornar a uma diplomacia de submissão, regressando a um alinhamento automático com os EUA. Acabar com as garantias de aumento real do salário mínimo? Cortar os subsídios para a habitação popular do “Minha Casa, Minha Vida”?
Todo o discurso fica na “capacidade gerencial”, como se isso aqui fosse apenas um botequim que precisasse de um dono mais organizado. Este é um país e um país precisa, mais do que de qualquer coisa, de um horizonte, um destino, um sentimento coletivo que o anime e faça caminhar para a frente. E isso só existe quando este desejo é coletivo e quando se firma uma convicção de que, de fato, podemos e seremos mais. E este sentimento, de verdade, só surge quando se dá valor e sentido de exemplo e conquista ao que pudemos e somos agora. Ai, caro leitor e estimada leitora, como seriam as coisas se dissessem que tudo o que vocês conseguiram juntos, está esgotado e mofado, se surgissem algumas dificuldades? Bem, se fossem os meninos, na sua inexperiência e volúpia, seria o caso de compreensão e diálogo, entendimento. Mas não são. Sabem que, abandonando este caminho, todas as portas nos levam ao passado. Querem que o povo brasileiro dê a mão e siga quem se nutriu e engordou politicamente em uma causa e que, sob a capa do “purismo” renega seus companheiros e vai dar à mão aos piores personagens de nossa história recente, ao que venderam o nosso país, entregaram nossa riqueza e se opuseram e sabotaram todo o tempo o modelo que, agora, dizem que está esgotado? Ainda não faz tanto tempo que se tenha esquecido o que o Brasil foi e olhos lúcidos para ver o que é hoje. Temos erros, muitos, muitos mesmo. O pior deles, pelo qual pagamos caro, hoje, foi o de termos falado pouco ao povo brasileiro e acreditar que a crise do velho modelo era tão grande e evidente que não devíamos apontá-la. A liberdade e a democracia, que não resolvem tudo sozinhas, têm, entretanto, algo maravilhoso. É que o povo pode ver, ler e ouvir, quando chega a hora, tudo o que lhe escondem todo o tempo. Mas se não tivermos a coragem de mostrar, as tintas reluzentes com que pintam o alçapão do passado podem nos atrair à escuridão. Passou o tempo em que poderíamos nutrir a ilusão de agradar a todos. Não é procurar os confrontos que podemos evitar: é não fugir daqueles que devemos enfrentar.

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