Mônica Vermelha

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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O medo é irmão da morte.

Ontem eu recebi mais um e-mail do tipo alerta. Já recebi vários: devo ficar atenta com o limpador de vidros, o vendedor do sinal, o desconhecido que pede informação, a pessoa bem vestida no banco que se aproxima muito, o homem charmoso que oferece uma bebida no bar, o pivete que tem uma seringa, o internauta que pode estar escondendo a cara...




Ao abrir mais um e-mail desse tipo me vieram várias lembranças à cabeça: lembrei-me de Guimarães Rosa que nos diz que “viver é perigoso” e ainda: "O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem."
Lembrei também de uma música já bastante antiga da Ângela Rorô que é uma homenagem à jovem Mônica (coincidência né?) que morreu assassinada junto com Cláudia Lessin Rodrigues (1977), o refrão diz: “morreu violentada porque quis: saía, cantava, dançava; podia estar quieta e ser feliz: calada, acuada, castrada...” E lembrei ainda de e-mails melosinhos que eu recebia há uns dez ou quinze anos atrás e que diziam que eu devia dar bom dia a um desconhecido, brincar com uma criança na rua, sorrir para todo mundo, ajudar as velhinhas e os deficientes, abraçar um colega, ser gentil, acolhedora e simpática com as pessoas em geral.
Como os tempos mudaram né, hoje em dia a gente precisa pensar muito, analisar exaustivamente a situação para só então saber se podemos respirar, sorrir, conversar, andar sem pressa, olhar para alguém ou alguma coisa. Devo estar muuuito velha, porque ando com uma saudade infinita de poder comer, beber, respirar, sorrir, abraçar, ouvir, brincar, ajudar... Saudade do tempo em que eu tinha medo só de assombração. Saudade de poder aceitar uma pipoca que alguém me oferecia no ônibus. Ando com saudade do tempo em que eu acreditava, junto com Rousseau, que o homem, por natureza, é (era) bom. Ando com uma saudade infinita do tempo em que eu era livre, porque hoje, se tiver um mínimo de bom senso, eu tenho que viver presa, acuada, reprimida, com medo de tudo e de todos. Isso sem contar o medo da guerra, do terrorismo, dos agrotóxicos, do buraco na camada de ozônio, das gripes suína e aviária, do câncer, das drogas, dos psicopatas, da violência policial, da morte aparente, das enchentes, das baratas...
Pensando nisso tudo, cheguei a uma pergunta crucial: será que vale a pena viver assim? É bem verdade que vivemos tempos sombrios, que a perversidade corre solta e lépida por aí, que a maldade, a violência, o preconceito e a brutalidade povoam o nosso cotidiano de “civilizados”. Sei também que os amigos que me enviam e-mails do tipo “alerta” são pessoas super legais, generosas, que se preocupam e se interessam pelo bem-estar coletivo, mas lembro-me de meu saudoso pai que dizia: “se não puder comer um torresmo e tomar uma cachacinha, é melhor morrer” e, parafraseando-o, digo: se não puder olhar para o lado, dar uma informação, andar devagar, sorrir, acreditar que o homem ainda tem algo de bom, é melhor morrer.

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