Mônica Vermelha

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sábado, 28 de maio de 2016

Dialogando com Eliane Brum

Apesar de ser de março de 2015, confesso que só vi o artigo (A herança mais maldita do PT) da Eliane Brum anteontem e, confesso também, que mesmo não sendo mais filiada ao PT, eu o recebi como uma coronhada na nuca! Eu, não tenho dúvida de que o PT cometeu e ainda comete muitos erros e os que acho mais graves já inclusive falei aqui em outros momentos!
Vamos primeiro aos erros cometidos pelo PT, elencados por Eliane, com os quais eu concordo: a política ou a falta de uma política que reconhecesse e valorizasse as terras, as culturas e as vidas indígenas é o primeiro deles. O PT não comprou essa briga violentíssima e se omitiu diante da continuidade do genocídio indígena em nosso país. Nessa questão, eu não dou desconto: o PT agiu (ou se omitiu) de forma criminosa em relação à questão indígena!

A questão do investimento e promoção do transporte individual e individualista - isenção do IPI - também me parece um erro gravíssimo, nesses tempos em que a i-mobilidade urbana é um dos nossos maiores problemas.Neste ponto, é preciso entretanto considerar que foi a forma que o governo achou de incentivar a indústria e que, no final das contas, a acusação de que o governo do PT não investiu no crescimento da indústria é uma das mais fortes que pesa sobre o mesmo e a participação da fiesp no golpe como uma das grandes protagonistas é uma evidência disso. A discussão sobre o modelo de desenvolvimento baseado em grandes obras e com pouca preocupação com as questões ambientais me pareceu superficial e simplista, obviamente, eu também quero um modelo de desenvolvimento sustentável, mas isso não é tão simples, nem tão barato, nem tão fácil assim! Os bons ambientalistas e os bons "desenvolvimentistas" têm travado um debate muito mais profundo e complexo sobre essas questões, considerando nossa condição geo-política, nossos níveis de desigualdade, nossa inserção no tal mercado globalizado e outras variáveis que não podem ser desprezadas se se pretende um debate honesto, inteligente e emancipador. Bom tem vários outros aspectos em que é possível dizer que a autora tem um pouco de razão, mas, o texto é longo e vou optar agora por elencar aqui os pontos que me incomodaram mais, por discordar veementemente deles:
- a autora nega a polarização política que, segundo ela, é um discurso do PT. Primeiro, não me parece que o discurso da polarização seja um discurso do PT, quem falou nisso primeiro e propôs inclusive a divisão do Brasil entre vermelhos e azuis foi a extrema direita. De qualquer forma, reconhecer que existe uma polarização significa falar de "intensidade de preferências" - lembrei-me aqui de Robert Dahl - e não implica negar que entre as duas preferências diametralmente opostas exista um grande contingente de pessoas que não se identificam ou não preferem nem um nem outro. De qualquer forma não há como negar que existe uma radicalização do discurso e da prática direitista - com várias amostragens nazifascistas - às quais uma grande parte da esquerda tem entendido que é importante sim se contrapor, para que a mesma não seja naturalizada, aceita como "normal"!
- Eliane Brum fala ainda da suposta superioridade numérica do público anti-Dilma - baseada em dados da folha de são paulo, da globo e da polícia militar e desconsiderando o papel escandaloso da grande mídia na convocação do mesmo!!!!!! Rsrsrsrs... - e do equívoco da esquerda em tachar todas essas pessoas de direitistas, fascistas, pessoas incomodadas com as políticas sociais e inclusivas dos governos petistas! Ora, obviamente, no público pró-golpe existem pessoas de todo tipo, mas, confesso que até hoje não vi ninguém que seja favorável ao  Bolsa-Família ou às Cotas, por exemplo, ser favorável ao impeachment. Mas, para além disso, a questão é que os, digamos, mentores e infladores desse público são, indubitavelmente, pessoas que têm sim ódio aos pobres, à igualdade, ao compartilhamento de espaços "públicos" ou "privados" com pessoas que eles consideram inferiores ou diferenciadas.
- Ao falar da corrupção do PT, a autora em questão argumenta que o partido não inventou a corrupção mas, acabou se chafurdando também na lama e que a corrupção dos outros não diminui a culpa petista com o que, aliás, concordo plenamente, visto que o selo da ética na política era um dos nossos maiores patrimônios. Porém, o que me incomoda nessa parte do texto é a autora se basear numa denúncia, num suposto vazamento de uma suposta delação premiada - eu não vejo nenhuma legitimidade nessa "instituição"! - publicada por quem????? Pela globo! Bom, uma analista que se diz de esquerda, fundamentar a sua crítica numa "reporcagem" da globo me parece... o fim da picada! Rsrsrs... Ninguém, com um mínimo de inteligência, senso crítico e perspicácia - e ainda sendo de esquerda! - pode ignorar a perseguição, a parcialidade, a desonestidade da globo em relação ao PT. Cabe ressaltar aqui que não tenho e nem terei a menor dificuldade em defender a punição de petistas corruptos, cuja culpa seja comprovada através de procedimentos legais e honestos, o que, infelizmente, parece impossível de acontecer com o "judiciário" que temos, esse mesmo que, desde sempre praticou o aviltamento da justiça, o acobertamento dos pares, a criminalização dos pobres e dos negros, a premiação da hipocrisia! Esse mesmo que é, na maioria das vezes, promotor e cúmplice da injustiça e que, raríssimas vezes condenou e determinou a punição, de verdade, a algum culpado "bem nascido"! A justiça é realmente cega, mas tem um olfato bem afiado e não lança mão de sua espada nos ambientes cheirosos!
- Por fim Eliane Brum faz referência ao abandono das pautas de esquerda; sim, é verdade, as pautas mais genuínas da esquerda foram abandonadas, mas desde a primeira aliança com o pmdb e da carta aos brasileiros, isso já estava dito e já estava claro; se o PT não tivesse se comprometido a deixar essas pautas de lado, ele simplesmente não teria sido eleito, não teria governado durante 12 anos e nós não estaríamos aqui discutindo isso tudo, os significativos avanços sociais não teriam acontecido e todos nós seríamos provavelmente velhos virgens e estéreis! Ah, mas, alguns avanços em termos de reforma agrária, de regulação da mídia, de auditação da dívida etc podiam ter sido feitos em momentos de maior popularidade, no segundo governo do Lula, por exemplo! Talvez... talvez... mas isso seria descumprir o "acordo" e poderia desembocar na antecipação do golpe (!!!), porque nossas elites financeiras, nossa mídia e nosso judiciário são e sempre foram tão violentos quanto vemos que são agora!
Para terminar esse texto quero voltar a um ponto de concordância com a autora: o PT se afastou de suas bases, abandonou as ruas. Sim, na minha avaliação este foi o maior pecado cometido pelo partido, se não tivesse perdido o contato com as ruas, a capacidade de dialogar com a sociedade, com as suas bases, se tivéssemos todos, entendido que o governo precisaria de respaldo popular o tempo todo, se o PT tivesse buscado esse apoio, essa sustentação dioturnamente, talvez as coisas hoje fossem um pouco diferentes, mas, não foi assim que aconteceu, errou a direção do partido, errou o governo, errou a base e, para piorar as coisas eu me lembro neste momento de 2013 quando Dilma propôs uma Política Nacional de Participação Popular, sabe quem foi para as ruas defender essa proposta linda, maravilhosa, super democrática??? Praticamente NINGUÉM! Enfim, a "herança", se é que se pode falar nisso agora, do PT pode ser a desilusão, a desmobilização, a morte da esperança... Ou, pode ser o aprendizado, a transformação, o renascimento ou, ainda e simplesmente, a preparação do terreno para que outras práticas brotem nesse chão de cimento!

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